Entre dunas brancas, coqueiros e um areal que se perdia no horizonte, começava a surgir, no início da década de 1970, um pequeno edifício de quatro pavimentos. Isolado, cercado apenas por poucas casas de veraneio e áreas cercadas por arame farpado, ele se destacava como um marco de mudança. Era o Edifício Pedra de Allah, e nele começaria a história do bairro que conhecemos hoje como Costa Azul.
Um tempo de cidade em expansão
O final dos anos 60 e o início dos anos 70 marcaram um período de crescimento acelerado em Salvador. O Loteamento Cidade da Luz já havia consolidado a Pituba como um bairro emergente, e a expansão natural da cidade deu origem ao Loteamento Ampliação Cidade da Luz.
Essa nova área, que ia da foz do Rio Camaragibe até as proximidades do Jardim de Allah, reunia diferentes pontos de interesse:
- O Clube Costa Azul e seu hotel três estrelas, conhecido por seu restaurante requintado;
- A Vila dos Sargentos, pertencente à Aeronáutica, que garantia tranquilidade e segurança à região;
- Áreas verdes e uma pequena lagoa cercada por vegetação típica da orla;
- Um extenso areal com dunas, onde mais tarde surgiria a Rua Gaspar Sadoc.
Era ali que, em 1971, começava a construção do primeiro prédio da área — e único fora dos conjuntos habitacionais do BNH.
O “prediozinho amarelo”
O Pedra de Allah, nome inspirado no Jardim de Allah, foi projetado para apenas 14 famílias. Entre elas, Marcos A. R. Nogueira e sua esposa Licena, que decidiram comprar ainda na fase de fundações, mesmo sendo considerados “ousados” por parentes e amigos.
Quando todos os apartamentos estavam prontos e ocupados, veio a primeira reunião de condomínio. Foi nesse encontro, em meio a risos e improvisos, que um incômodo se tornou evidente: o endereço oficial era longo, complicado e nada prático para a vida cotidiana — especialmente quando cada cheque precisava ter o endereço escrito no verso, como exigia a prática bancária da época.
Batizando a rua e o bairro
A solução começou pelo nome da rua. A simples “Rua A” ganhou personalidade ao ser batizada como Rua dos Maçons, referência ao clube próximo. Depois, veio a pergunta: “E o bairro?”
A sugestão de adotar o nome STIEP foi rejeitada — havia uma clara intenção de diferenciar a nova comunidade dos conjuntos habitacionais ligados ao sindicato dos petroleiros. Foi então que surgiu a proposta que mudaria tudo: Costa Azul.
A ideia era perfeita: todos já usavam o clube e o hotel como ponto de referência e, além disso, o nome remetia à sofisticada Côte d’Azur francesa. Aprovada por unanimidade, a decisão não passou pela prefeitura, mas ganhou força no uso cotidiano.
Para oficializar “na marra”, os próprios moradores começaram a enviar cartas para si mesmos com o novo endereço, acostumando o carteiro e registrando, de forma viva, o nascimento do bairro.
De referência local a bairro oficial
Com o passar do tempo, o nome Costa Azul se consolidou e foi reconhecido oficialmente. Hoje, a antiga Rua dos Maçons é a Dr. Bureau, e o “prediozinho amarelo” quase desaparece entre as torres modernas, mas a história permanece como um símbolo de pertencimento e iniciativa comunitária.
Marcos encerra seu relato com um carinho especial:
“Foi correndo livremente por aquelas saudosas areias branquinhas que criamos nossos dois filhos. O meu caçula teve o novo bairro da Bahia como berço.”
📖 Fonte: Relato de Marcos A. R. Nogueira, primeiro morador e síndico do Edifício Pedra de Allah, publicado no Informativo AMOCA – abril de 2001.